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São Luís (MA), 19 de dezembro de 2024

Intelectuais em alerta! Mesmo ameaçado pela soja, Buriti ainda respira ar puro e poesia!

Dois dias inteiros na cidade de Buriti de Inácia Vaz, a 320 KM de São Luís-MA, respirando ar puro e poesia; ouvindo recitais e histórias do arco da velha; tendo aulas de sustentabilidade e conspirando para que, em breve, um movimento feito à Balaiada consiga impedir o desmatamento criminoso que se faz na região
Buriti Branco
A mesa que abriu os trabalhos do II Encontro Literário da APA dos Morros Garapenses
Auditório do CAP completamente lotado – o apoio à literatura
O santuário ecológico “Barro Branco”, em Buriti
Francisco Carlos, José Machado, Raimundo Marques e Jucely
Reunião preparatória para a fundação da academia de letras

Dois dias inteiros na cidade de Buriti de Inácia Vaz,  a 320 KM de São Luís-MA, respirando ar puro e poesia; ouvindo recitais e histórias do arco da velha; tendo aulas de sustentabilidade e conspirando para que, em breve, um movimento feito à Balaiada consiga impedir o desmatamento criminoso que se faz na região (Chapadinha, Anapurus, Mata Roma, Brejo, Buriti, Santa Quitéria…), onde as plantas nativas (juçaras, buritizeiros, bacurizeiros, pequizeiros, jatobás, mutambas …) estão dando lugar à soja e ao agrotóxico.  Não estava em Buriti por acaso. Nascido a 18 quilômetros dali, na antiga Vila do Garapa (hoje Duque Bacelar), curtia  fortes  lembranças dos banhos no Rio Parnaíba e nas lagoas que ele criava no inverno.

Falo do ambiente criado pelo II Encontro Literário da APA dos Morros Garapenses, sediado em Buriti, agora em junho: “as artes, artistas e a literatura unindo nossa região”. E foi isso mesmo o que aconteceu, da forma como propôs o tema, exceção feita ao choro triste de lamento pela devastação das chapadas da região. Afinal, literatura e meio ambiente coexistem – uma reclama a sobrevivência da outra…

Mas, entrando na programação, vi a historiadora e professora doutora da UFMA, Regina Faria, abrir um rasgo na história para explicar quando, onde e por que a Balaiada “rolou” no Maranhão. E esse rasgo atingiu em cheio o Baixo Parnaíba,  por onde um bravo vaqueiro Raimundo Gomes, de uma certa Vila da Manga, deu as suas ripadas revoltosas e com ele levou um monte de caboclos,  negros e brancos injustiçados,  à luta por um Maranhão e um Brasil melhores,  ainda no Século XIX. Até que o coronel e rufião Luís Alves de Lima e Silva, apelidado depois de “Duque de Caxias”,  sufocou o movimento…

Apreciei, também, quando o jornalista, escritor e ambientalista Moisés Matias abriu  um cofo cheinho de ideias sobre como  uma família grande ou pequena pode viver – e bem – cultivando um pedacinho de chão de 1 a 5 hectares, com trabalho sustentável, ecologicamente correto e sem stress. Foi um show. Vai voltar à região e, didaticamente, ensinar a  prática da Ecologia e de como se pode viver muito,  sem fadigas. Para isso, levou à tiracolo o livro de sua autoria “Ecologia e Estresse”, quase esgotado.

Francisco Carlos Machado, um jovem idealista e revolucionário de Duque Bacelar, depois de apanhar e até ser preso, abriu a picada para a criação de uma Área de Preservação Ecológica (APA), sacramentada em decreto do saudoso governador Jackson Lago, que abrange os municípios Afonso Cunha, Buriti, Coelho Neto e Duque Bacelar (Nem ele percebeu que é a região do ABCD maranhense). Mas “Apa dos Morros Garapenses” também é chic. Homenageia a antiga Vila do Garapa, imprensada por dois morros gigantes que, se preservados, vão proteger a cidade de hoje e sempre – Duque Bacelar. Foi lá que nascemos – eu e ele.

Além de ter sido o coordenador do encontro – cuja organização mereceu o elogio de todos -, coube a Francisco Carlos, escritor, poeta e ecologista,  a tarefa de sugerir  “ações e práticas de estímulo à Leitura e à criação literária nas cidades abrangidas pela APA. Empreitada que dividiu com a assistente social e poetisa  Elizabeth  Faria, da Associação dos Amigos de Buriti (Amib) e Janaína de S. Cosme, professora da Escola Maria Regueira, licenciada em Letras).

Jucely Santana, presidente da Academia Itapecuruense Letras e secretária da Federação das Academias de Letras do Maranhão-FALMA (Não é que existe!…), andava, sob o braço, com o livro de atas que prenuncia a futura Academia de Letras de Buriti e, possivelmente, englobará os homens de letras da sub região do “ABCD maranhense”. Assim, juntamente com Hagamenon de Jesus, falou sobre ‘Academias de Letras e Movimentos Culturais Literários no Maranhão, atualmente: como são organizados, estimulados e sua importância”.

O inquieto poeta Bioque Mesito   foi lançado de São Luís para falar sobre “Processo Criativo em Literatura”. Encantaria a todos com sua palestra e com os seus poemas que há muito surpreendem, positivamente, a crítica literária maranhense. Ainda nessa linha, o poeta, professor e doutor em Teoria da Literatura Antônio Ailton palestrou sobre “Caminhos para a compreensão da poesia contemporânea, a partir de suas escolhas formais”. Uma senhora aula! Mas “Por que gostar de ler? A resposta foi dada por Carvalho Júnior, poeta, escritor e especialista em Língua Portuguesa, convidado para entrar no cerne da questão…

Também marcou presença o intelectual  Joaquim Aguiar, que tem um importante livro contando  parte da história de Buriti, ao narrar a saga dos seus ancestrais na fuga da seca do Ceará até se abrigarem naquele pedaço de chão. Lá estava o também buritiense Raimundo Marques,  advogado, ex-promotor de Justiça, ex-presidente da OAB-MA, ex-secretário de Segurança Pública do Maranhão e mecenas . Seguindo o script dos de Inácia Vaz, Marques já editou três livros, um deles sobre sua terra e sua gente.  Com esses dois, e a intermediação do animador e blogueiro Aliandro Borges -, mais Regina Faria, compus uma animada “mesa de diálogos”, cada um falando do processo de criação de suas obras, ou seja, vendendo o seu peixe…

O sarau que fechou o primeiro dia do encontro foi muito forte. Os poetas e declamadores estufaram o peito e presentearam a plateia com o melhor dos sentimentos  que puderam expulsar de dentro de si. Orgulhosos, os de Buriti declamaram muito do que está reunido no livro “Aventuras Literárias”, que coleta poemas de quatro “Festivais Buritienses de Poesia”.
Registre-se, aqui, a importância do apoio da Associação dos Amigos de Buriti (Amib) na realização do evento, das famílias da cidade que receberam os convidados com toda a fidalguia possível, fazendo todos se sentirem, literalmente, em casa. Não tem preço a vivência na bela e ecológica Fazenda “Barro Branco”, de Raimundo Marques. Brindou a todos com um almoço regado a galinha caipira ao molho pardo, bode ao leite de coco babaçu e outras guloseimas. Foi aqui que se discutiu os estatutos da nova academia de Letras de Buriti e região. E se rogou praga nos insensíveis devastadores das chapadas da região para o plantio de soja e seu assassino manejo do solo, com poderosíssimos agrotóxicos!

Dois lançamentos de livros de poemas animaram o encontro: “O homem Tijubina”, de Carvalho Júnior, e “Cerzir”, de Antônio Ailton, no Centro de Capacitação Pedagógica. O livro “Vozes Poéticas dos Morros Garapenses – antologia dos Poetas da APA”, organizado por Francisco Carlos Machado, também seria lançado, mas a gráfica atrasou a entrega. Assim, deverá vir à luz na AMEI, em São Luís, nos próximos dias.

Por fim, devo dizer que fui a Buriti porque: “De versos/faço diversos/os temas/Choros/sorrisos/dilemas/Sem versos/causo problemas!”

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3 respostas

  1. Bela reportagem sobre o 2º Encontro Literário da APA dos Morros Garapenses, em Buriti. Foi um evento feito por parcerias voluntárias entre os poetas e escritores, Secretaria de Educação de Buriti, familias hospedeiras e a comunidade em geral. Tudo em clima de muita boa vontade e participação,mostrando que uma comunidade e suas políticas públicas podem ser realizadas com unidades e querer o bem social – em pequenas e grandes ações – contribuindo para a elevação social de um lugar, aqui, trabalhando a cultura via literatura, educação, leitura e cuidados com o meio ambiente local.

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