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São Luís (MA), 14 de novembro de 2024

Racismo na Saúde! Mulheres pretas morrem mais durante parto e pós

É o que divulgou o Boletim Saúde Materna da Mulher Negra, produzido pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e pelo Instituto Çarê. Os pesquisadores analisaram diferentes causas de mortalidade materna entre 2014 e 2021 e em todos os casos mulheres pretas apresentaram os piores indicadores.
Portrait of future mother with baby bump waiting on medic to start health care consultation in cabinet. Woman expecting child sitting on bed before examination appointment with obstetrician.

É o que divulgou o Boletim Çarê-IEPS – Saúde Materna da Mulher Negra, produzido pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e pelo Instituto Çarê. Os pesquisadores analisaram diferentes causas de mortalidade materna entre 2014 e 2021 e em todos os casos mulheres pretas apresentaram os piores indicadores.

Na hora do parto, as mulheres negras levam desvantagem. Elas morrem mais! (Foto: DCStudio/Freepik)

Gestantes e puérperas pretas têm os piores indicadores de mortalidade materna, entre as causas mais frequentes de óbito, mostra o Boletim Çarê-IEPS n. 1/2022 Saúde Materna da Mulher Negra produzido pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e pelo Instituto Çarê. O estudo analisou as causas de mortalidade materna a partir da 10ª Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10) entre 2014 e 2021. Nesse período, na categoria “Afecções obstétricas não classificadas em outra parte”, que reúne diversas causas de mortalidade, como transtornos mentais e doenças virais, a média da razão de mortalidade materna  entre mulheres pretas foi de 42,9, mais que o dobro do que mulheres brancas (20,8) e pardas (20,1).

Segundo Rony Coelho, pesquisador do IEPS e integrante da cátedra Çarê-IEPS, os números mostram como as desigualdades raciais impactam a vida e a saúde da população negra. “Precisamos pensar a saúde a partir de uma perspectiva social. Existem determinantes sociais que impactam diretamente os modos de vida, de trabalho, de adoecimento e de acesso aos serviços de saúde. O Boletim ajuda a pensar no porquê a população negra, especialmente as mulheres pretas, apresentam os piores indicadores sob os mais variados recortes. Esses números nos levam a refletir sobre quais dimensões da vida são impactadas pelo racismo”, enfatiza Rony Coelho.

o ano passado, as doenças virais foram as principais responsáveis pelos registros de morte de gestantes e puérperas pretas, dentre os diagnósticos presentes na categoria “Afecções obstétricas não classificadas em outra parte”, atingindo no ano passado uma média de razão de mortalidade materna considerada alta, uma taxa de 73,6 mulheres a cada 100 mil nascidos vivos. Mulheres brancas e pardas também apresentaram um número expressivo de óbitos em razão de doenças virais. A razão de mortalidade entre mulheres brancas foi de 66,4 e 40,8 entre mulheres pardas.

“[…] Existem determinantes sociais que impactam diretamente os modos de vida, de trabalho, de adoecimento e de acesso aos serviços de saúde. O Boletim ajuda a pensar no porquê a população negra, especialmente as mulheres pretas, apresentam os piores indicadores sob os mais variados recortes. Esses números nos levam a refletir sobre quais dimensões da vida são impactadas pelo racismo”. Rony Coelho, pesquisador do IEPS e integrante da Cátedra Çarê-IEPS.

 “Pesquisas mostram que durante a pandemia houve um aumento expressivo da mortalidade materna e, infelizmente, não tivemos ações capazes de amenizar essas perdas. É fundamental que haja uma investigação adequada das causas da mortalidade, mas, mais importante, deve haver um investimento contínuo para a redução da mortalidade materna, seja na atenção básica, para a identificação precoce dos possíveis casos de hipertensão gravídica entre outras causas de morte evitáveis, seja nos casos em que há necessidade de hospitalização. Um ponto que é sempre bom lembrar é que mais de 90% dos casos de mortalidade materna são por causas evitáveis, segundo alguns órgãos internacionais de saúde”, explica o pesquisador da cátedra Çarê-IEPS.

Intercorrências obstétricas graves: casos de pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia aumentaram entre mulheres negras e brancas

As intercorrências obstétricas graves são complicações durante gravidez e o puerpério que podem, em casos extremos, levar à morte. A pré-eclâmpsia e seu estágio mais grave, a eclâmpsia, é um desses casos. O boletim identificou que aproximadamente de 23 a 33 parturientes a cada 1.000 sofreram desse quadro hipertensivo entre 2014 e 2021, o que representa uma taxa média mensal de 28,4 casos. Apesar do número ser expressivo para todas os recortes de raça/cor, as mulheres pretas continuam apresentando índices maiores, atingindo 32,8 (15,5% a mais do que a média geral). A média entre mulheres brancas foi 24,9 (12,5% a menos do que a média geral) e entre as pardas de 27,5 (3,1% a menos do que a média geral).

As demais intercorrências obstétricas graves analisadas no boletim, a hemorragia e a sepse, apresentaram baixa ou estabilidade no período analisado no estudo para todas as mulheres.

Acesse o Boletim Çarê-IEPS n. 1/2022 Saúde Materna da Mulher Negra na íntegra.

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